Veritas Ipsa

domingo, 26 de dezembro de 2010

A ALMA É IMORTAL?

INTRODUÇÃO

A Igreja ensina que cada alma espiritual é criada diretamente por Deus - esta não é "produzida" pelos pais - e que é imortal: não perece quando, na morte, se separa do corpo e tornará a se unir ao corpo quando ocorrer a ressurreição final.

Apesar da doutrina da imortalidade da alma estar claramente revelada nas Escrituras, existem seitas e denominações protestantes (testemunhas de Jeová, adventistas etc.) que, apegando-se a uma interpretação particular da Bíblia, não cansam de rejeitá-la obstinadamente. Eis aqui um resumo dos seus argumentos.

QUAIS SÃO OS ARGUMENTOS DAS SEITAS QUE NEGAM A IMORTALIDADE DA ALMA?

Um resumo dos argumentos empregados pelos testemunhas de Jeová para negar a imortalidade da alma extraí de sua revista "Despertai", de 22 de outubro de 1982:

"Os testemunhas de Jeová (...) crêem que a alma humana é mortal, que os mortos não sentem nada em absoluto. Por que crêem nisto? (...) os escritores das Escrituras Hebraicas (Antigo Testamento) jamais - nem uma só vez - acrescentaram às palavras 'néphesh' (o termo hebraico para 'alma') ou 'rúahh' (o termo hebraico para 'espírito') a qualificação de 'imortal'. Ao contrário, ensinaram que alma humana morre: 'A alma que pecar, essa é a que morrerá' (Ezequiel 18:4.20, Versão Moderna; ver também Salmo 22:29; 78:50). Dizem que os mortos estão inconscientes: 'Porque os vivos sabem que morrerão, mas os mortos nada sabem e já não há salário para eles (...) Qualquer coisa que esteja ao teu alcance fazer, fazei-a conforme as tuas forças, porque não existirá obra, razão, ciência ou sabedoria no Sheol [o sepulcro comum da humanidade] para onde irás' (Eclesiastes 9:5.10, Bíblia de Jerusalém). As Escrituras Gregas (Novo Testamento) oferecem o mesmo ponto de vista sobre a alma e a morte. Jesus disse que Deus 'pode destruir tanto a alma quanto o corpo', de forma que, se a alma pode ser destruída, não pode ser imortal (Mateus 10:28). Falando de Jesus, o apóstolo Pedro declarou: 'Qualquer alma que não escute esse profeta será totalmente destruída' (Atos 3:23). Jesus também mostrou que os mortos encontram-se inconscientes, pois comparou a morte a 'um sono que concede descanso' (João 11:11-14). Isto está em harmonia com o que qualquer pessoa pode facilmente discernir ao participar de um funeral, onde pode ver o corpo do falecido. Segundo o relato da Criação registrado em Gênesis 2:7, Adão foi formado do pó da terra e 'o homem veio a ser alma vivente'. Portanto, a Bíblia usa a expressão 'sua alma' para se referir à 'própria pessoa'" (Despertai, 1982 - G82, 22/10, pp.25-27). Partindo deste breve resumo, podemos separar seus argumentos para estudá-los um por um:

ARGUMENTO Nº 1: OS MORTOS NÃO TÊM CONSCIÊNCIA DE NADA

"Porque os vivos sabem que morrerão, mas os mortos nada sabem e já não há salário para eles, pois foi perdida a sua memória. Tanto o seu amor quanto o seu ódio, como os seus zelos, há tempos pereceu e nunca tomarão parte em qualquer coisa que ocorra sob o sol" (Eclesiastes 9,5-6).

Os testemunhas de Jeová interpretam literalmente e fora do contexto este texto bíblico para afirmar que a pessoa, quando morre, não possui consciência de nada; logo, não haveria uma alma imortal que sobrevivesse. Para eles, quando uma pessoa morre, deixa de existir e apenas "fica na memória de Jeová". Contudo, para entender por que os testemunhas de Jeová chegaram a esta conclusão, devemos compreender a sua forma de enxergar as Escrituras.

Sua principal dificuldade encontra-se talvez em não compreender que a revelação divina foi progressiva. Não deveríamos ficar surpresos por não encontrar nenhuma referência à ressurreição em todo o Pentateuco (as primeiras menções à ressurreição encontramos em Isaías 26,19 e Daniel 12; inclusive, nos tempos de Jesus, os saduceus a rejeitavam) e muito menos em reconhecer que o motivo disso é que ela não havia sido revelada até então. A própria revelação do Messias como Deus e Filho de Deus não é igualmente clara no Antigo tal como temos no Novo Testamento. Muitos exemplos poderiam ser citados, mas certamente qualquer leitor cuidadoso poderá observar sem muita dificuldade este desenvolvimento da revelação à medida que avança a leitura das páginas da Bíblia, o que implica que houve momentos da História onde o conhecimento de certas verdades era parcial e limitado, aumentando à medida que avançava a transmissão da revelação ao Povo de Deus.

O mesmo ocorre quanto a compreensão do Povo de Deus acerca de seu conhecimento sobre o além e, sobretudo, acerca da recompensa ou sanção aplicada a cada um. Assim, para o autor do Eclesiastes, bem como para os autores dos livros sagrados anteriores, não existe um conhecimento claro de recompensa ou castigo, a não ser quanto aos bens ou males da vida presente. Parece sim vislumbrar que Deus julgará as ações do justo e do ímpio (Eclesiástico 3,17; 11,9; 12,14) embora sem conhecer a natureza da recompensa.

É simples, assim, compreender que não é que o Autor ponha em dúvida a imortalidade da alma e a retribuição futura, mas que as ignora e, por isso, compara a condição dos vivos com a dos mortos conforme suas concepções acerca do Sheol (lugar onde antes da ressurreição de Cristo descansavam as almas e no qual já não faziam parte do mundo dos vivos).

Pode-se encontrar ao longo de todo o Livro textos que confirmam isso: "Quem sabe se o alento de vida dos humanos ascende ao alto e se o alento de vida da fera desce à terra?" (Eclesiastes 3,21). O próprio Autor reconhece aqui não saber o que acontece com o alento de vida dos seres humanos e se se diferencia do [alento de vida] dos animais.

Em outra parte escreve: "Porque o homem e a fera possuem a mesma sorte: um morre como o outro e ambos possuem o mesmo alento de vida. O homem em nada leva vantagem sobre a fera..." (Eclesiastes 3,19), textos que permitem entender que o Autor fala apenas sobre o que sabe e o que tinha sido revelado até então. No entanto, os testemunhas de Jeová sustentam toda a sua doutrina em textos do Antigo Testamento - quando a Revelação estava ainda em pleno progresso - e se vêem obrigados a distorcer todos os textos claros do Novo Testamento que contradizem a sua teologia.

O mais contraditório de sua teologia é que, ao interpretar Eclesiastes 9,5-6 como o fazem, deveriam concluir que tampouco existe recompensa futura, já que o texto afirma que para os mortos "já não há salário para eles", embora saibamos que "o Filho do Homem há de vir na glória do seu Pai, com os seus anjos, e então pagará a cada um segundo a sua conduta" (Mateus 16,27).

ARGUMENTO Nº 2: A ALMA QUE PECAR MORRERÁ

"Minhas são todas as almas; tanto a do pai quanto a do filho, minhas são, e a alma que peca, essa perecerá" (Ezequiel 18,4).

De alguma maneira, os testemunhas de Jeová optaram por interpretar que este texto se refere à aniquilação ou destruição da alma. Talvez a principal dificuldade aqui seja a sua falta de compreensão acerca do significado da palavra "morte" na Bíblia, a qual, em certos casos, faz referência à separação da alma do corpo (=morte física), mas em outros casos se refere à separação do homem de Deus em razão do pecado (=morte espiritual).

Entre alguns textos onde a morte faz referência à morte física, em que se separam alma e corpo:

- "E ao exalar a alma, pois estava doente, o chamou Ben-'oní; porém, seu pai o chamou Benjamin" (Gênesis 35,18).

- "Pois para mim a vida é Cristo e a morte um lucro. Porém, se o viver na carne significa para mim trabalho fecundo, não sei o que escolher... Sinto-me premiado dos dois lados: por um lado, desejo partir e estar com Cristo, o que, certamente, é muito melhor; mas, por outro lado, ficar na carne é mais necessário para vós" (Filipenses 1,21-24).

No texto anterior, São Paulo está consciente de que ao morrer deixará o seu corpo para estar com Cristo; prefere, no entanto, permanecer na carne em razão da evangelização. O seguinte texto é ainda mais explícito:

"Assim, pois, sempre cheios de bom ânimo, sabendo que, enquanto habitamos no corpo, vivemos afastados do Senhor, já que caminhamos na fé e não na visão (...) Estamos, pois, cheios de bom ânimo e preferimos deixar este corpo para viver com o Senhor. Por isso, quer em nosso corpo, quer fora dele, nos esforçamos por agradar-Lhe" (2Coríntios 5,6-9).

Basta apenas este texto para desarmar toda a teologia dos testemunhas de Jeová e adventistas, já que fala explicitamente da possibilidade de se viver no corpo e fora dele, e que em ambos os estados nos esforçamos em agradar a Deus.

Entre alguns textos onde a morte faz referência à separação do homem de Deus em razão do pecado, temos:

- "E a vós que estáveis mortos em vossos delitos e pecados" (Efésios 2,1).

- "Estando mortos em razão de nossos delitos, nos vivificou juntamente com Cristo - pela graça fostes salvos" (Efésios 2,5).

- "Pois tudo o que fica manifesto é luz; por isso se diz: 'Desperta tu que dormes e te levanta dentre os mortos, e Cristo te iluminará" (Efésios 5,14).

- "E a vós, que estáveis mortos em vossos delitos e em vossa carne incircuncisa, vos vivificou juntamente com Ele e nos perdoou a todos os nossos delitos" (Colossenses 2,13).

É por isso que não é coerente interpretar Ezequiel 18,4 como uma aniquilação da existência da alma, mas, pelo contrário, o que realmente significa: um estado onde a alma fica afastada de Deus por toda a eternidade.

- "Porque é próprio da justiça de Deus pagar com tribulação aqueles que vos atribulam; e a vós, os atribulados, com o descanso junto conosco, quando o Senhor Jesus se revelar a partir do céu com os seus poderosos anjos em meio a uma chama de fogo, e realizar vingança contra os que não conhecem a Deus e os que não obedecem ao Evangelho de nosso Senhor Jesus. Estes sofrerão a pena de uma ruína eterna, afastados da presença do Senhor e da glória do seu poder" (2Tessalonicenses 1,6-9).

- "Ali será pranto e ranger de dentes, quando virdes Abraão, Isaac, Jacó e todos os profetas no Reino de Deus, enquanto que vós estareis sendo lançados fora" (Lucas 13,28).

Outra referência à morte da alma, não como uma aniquilação definitiva, mas como uma separação do homem de Deus, encontramos no Apocalipse, onde se fala da "segunda morte":

- "Quem tiver ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas: 'o vencedor não sofrerá o dano da segunda morte'" (Apocalipse 2,11).

- "Porém, os covardes, os incrédulos, os abomináveis, os assassinos, os impuros, os feiticeiros, os idólatras e todos os embusteiros terão a sua parte no lago que arde com fogo e enxofre, que é a segunda morte" (Apocalipse 21,8).

- "E o Diabo, seu sedutor, foi atirado no lago de fogo e enxofre, onde estão também a besta e o falso profeta; e serão atormentados dia e noite pelos séculos dos séculos" (Apocalipse 20,10).

- "E eu vos digo que virão muitos do oriente e do ocidente e se colocarão à mesa com Abraão, Isaac e Jacó no Reino dos Céus, enquanto que os filhos do mundo serão lançados às trevas exteriores; ali haverá choro e ranger de dentes" (Mateus 8,12).

Ao lermos cuidadosamente estes textos, é possível perceber que a segunda morte (chama-se assim precisamente porque é a morte da alma) que os condenados sofrerão em conjunto com o Diabo, a besta e o falso profeta, implicará não apenas no afastamente de Deus por toda a eternidade (=pena de dano), mas ainda uma espécie de tormento eterno (=pena de sentido).

"Muitos dos que dormem no pó da terra despertarão: uns para a vida eterna; outros, para o opróbio, para o horror eterno" (Daniel 12,2).

Em absolutamente todos os textos que tratam do destino final dos condenados (Mateus 8,12; 13,42; 24,51; 25,30; Lucas 13,28), encontramos o mesmo: a morte da alma é um estado de separação definitivo de Deus, nunca se falando de uma destruição ou cessação da existência.

Observação: Os testemunhas de Jeová afirmam que apenas os justos ressuscitarão. Embora este jeito de ver as coisas seja quase lógico - já que não teria muito sentido os injustos ressuscitarem para tornarem a ser destruídos - isto, porém, contradiz o que o profeta Daniel já havia profetizado no texto que acabamos de citar (v. Daniel 12,2).

ARGUMENTO Nº 3: JESUS DISSE QUE DEUS "PODE DESTRUIR TANTO A ALMA QUANTO O CORPO", DE MODO QUE, SE A ALMA PODE SER DESTRUÍDA, LOGO NÃO PODE SER IMORTAL (MATEUS 10:28)

Aqui, o erro das testemunhas é novamente interpretar esta morte da alma como uma aniquilação. Seu argumento é que o texto grego emprega "άπόλλυμι" ("apólumi"), que traduzem e interpretam literalmente como "destruir". O "Dicionário de Grego Strong" nos oferece o seguinte significado:

G622
apólumi
de G575 e a base de G3639: destruir completamente (reflexivamente perecer ou perder), literal ou figurativamente: destruir matar, morrer, perder, perdido, perecível, perecer.

Não há razão nenhuma, portanto, para interpretar nesse texto a palavra "apólumi" como uma aniquilação ou destruição literal da alma. O contexto desse mesmo texto não apenas rejeita essa idécia como também serve para refutá-la:

"E não temais aqueles que matam o corpo, porém não podem matar a alma; temei mais Aquele que pode levar a alma e o corpo à perdição na Gehena" (Mateus 10,28).

Visto que os adventistas e os testemunhas de Jeová não crêem na imortalidade da alma, como algo poderia matar apenas o corpo e não matar a alma? Recorde-se que eles afirmam que não existe alma que sobreviva ao corpo e que, ao morrer o corpo, morre a alma. Porém, não é isso o que Jesus diz ali, mas justamente o contrário: há causas que podem matar o corpo sem matar a alma (um acidente ou qualquer coisa que pode causar a morte física, mas não a morte espiritual), de modo que a alma sobrevive ao corpo uma vez separada dele. Com efeito, o contexto de morte ou destruição da alma que é tratado ali não é uma aniquilação, mas um estado de morte espiritual definitiva.

EVIDÊNCIAS BÍBLICAS EM FAVOR DA IMORTALIDADE DA ALMA

Evidência nº 1: A Promessa feita ao Bom Ladrão

Certamente todos nós recordamos o que ocorreu com o bom ladrão quando Jesus foi crucificado:

"E um dos malfeitores que estavam pendurados lhe injuriava, dizendo: 'Se tu és o Cristo, salva-te a ti mesmo e a nós'. E respondendo, o outro lhe repreendeu, dizendo: 'Nem tu temes a Deus passando pela mesma condenação? Nós, na verdade, padecemos justamente, porque recebemos o que mereceram os nossos atos; mas quanto a este, nenhum mal fez'. E disse a Jesus: 'Senhor, lembra-te de mim quando vieres em teu Reino'. Então Jesus lhe disse: 'Em verdade te digo: ainda hoje estarás comigo no Paraíso'" (Lucas 23,39-43).

O interessante neste evento é que Jesus promete ao bom ladrão estar com Ele no Paraíso ainda naquele dia. Mas como poderia ocorrer isso se a alma não sobrevive ao corpo? Visto que este simples texto desmorona instantaneamente toda a teologia dos testemunhas e adventistas, estes inventaram um argumento bastante original para se justificarem: alegam que em tal época não existiam sinais de pontuação, de modo que o que Jesus quis dizer foi: "Em verdade te digo hoje: estarás comigo no paraíso" (a posição dos dois-pontos muda assim todo o sentido da frase).

O problema deste argumento é que tal forma de se expressar era totalmente alheia à forma de falar de Jesus verificada em todo o Novo Testamento. Quando Jesus usava a expressão "Em verdade te digo" (outras traduções traduzem: "Em verdade, em verdade", "Eu te asseguro" etc.), nunca a usava dessa maneira. Exemplos existem às dezenas, alguns dos quais podemos destacar:

- "Em verdade, em verdade eu te digo: Quando eras mais jovem, te cingias e ias para onde querias; mas quando fores mais velho, estenderás as tuas mãos e outro te cingirá e te levará para onde não queres" (João 21,18).

- "Em verdade eu te digo: não sairás dali até que pagues o último centavo" (Mateus 5,26).

- "Respondeu Jesus: 'Em verdade, em verdade eu te digo: quem não nascer novamente não poderá ver o Reino de Deus'" (João 3,3).

- "Em verdade, em verdade eu te digo: o que sabemos, encontramos; e o que vimos, testificamos; e não recebeis o nosso testemunho" (João 3,11).

- "Respondeu-lhe Jesus: 'Tua alma vai se pôr por mim? Em verdade, em verdade eu te digo: não cantará o galo sem que me tenhas negado três vezes'" (João 13,38).

Em todas estas oportunidades Jesus jamais disse: "Em verdade eu te digo HOJE:", mas apenas e de maneira bastante solene: "Em verdade eu te digo:".

Inclusive, quando Cristo empregou a palavra "hoje" nessa espécie de expressão, foi para afirmar que o referido evento ocorreria nesse exato dia:

"E disse-lhe Jesus: 'Em verdade eu te digo: tu, hoje, nesta noite, antes que o galo já tenha cantado duas vezes, me negarás por três vezes" (Marcos 14,30).

Nesta frase, nenhum adventista ou testemunha de Jeová se atreveria a dizer que Cristo estava dizendo que esse "hoje" seria qualquer outro dia, que Pedro algum dia O negaria, pois vemos que Cristo diz que Pedro O negaria neste mesmo dia ["nesta noite"], ou seja, "hoje" mesmo.

Outros exemplos onde Jesus empregou essa espécie de expressão sem jamais usar "hoje" para reafirmar a sua promessa ou o seu ensinamento podemos encontrar ao longo de todo o Evangelho (Mateus 3,9; 5.22.28.32.34.39.44; 12,36; 19,9; 21,27; Lucas 4,25; 9,27; 11,9; 12,44; 16,9; 19,26; João 16,7).

Os testemunhas de Jeová e os adventistas sustentam ainda que o bom ladrão não poderia estar com Jesus nesse dia no Paraíso porque Jesus subiu ao Pai somente após a ressurreição:

"Disse-lhe Jesus: 'Não me toques, pois não subi ao Pai. Porém, vai-te para onde estão os meus irmãos e dizei-lhes: 'Subo ao meu Pai e ao vosso Pai, ao meu Deus e ao vosso Deus'" (João 20,17).

Mas esta aparente "contradição" tem solução...

A aparente contradição é comentada por São Tomás de Aquino em sua "Suma Teológica", Parte III, c.52, a.4:

"Cristo, para assumir sobre si mesmo as nossas penas, quis que o seu corpo fosse depositado no sepulcro; e quis também que a sua alma descesse ao inferno. Porém, o seu corpo permaneceu no sepulcro um dia inteiro e duas noites para que se comprovasse a verdade da sua morte. Assim, é de crer também que a sua alma esteve outro tanto no inferno, a fim de que, por sua vez, saísse a sua alma do inferno e o seu corpo do sepulcro".

Mais adiante, continua dizendo:

"Cristo, ao descer ao inferno, libertou os santos que ali estavam, não retirando-os instantaneamente do lugar do inferno, mas iluminando-os com a luz de sua glória no próprio inferno. E, não obstante, foi conveniente que a sua alma permanecesse no inferno por todo o tempo que o seu corpo esteve no sepulcro".

Portanto:

"Essas palavras do Senhor devem ser entendidas, não quanto ao paraíso terrestre corpóreo, mas quanto ao paraíso espiritual, no qual se diz que vivem os que gozam da vida divina. Com efeito, o ladrão desceu localmente com Cristo ao inferno, para estar com Ele, visto que lhe disse: 'Estarás comigo no paraíso'; porém, em razão do prêmio, esteve no Paraíso porque ali gozava da divindade como os demais santos".

Evidência nº 2: a Parábola de Lázaro e o rico epulão

"Havia um homem rico, que se vestia com roupas finas e elegantes e dava festas esplêndidas todos os dias. Um pobre, chamado Lázaro, cheio de feridas, ficava sentado no chão junto à porta do rico. Queria matar a fome com as sobras que caíam da mesa do rico, mas, em vez disso, os cães vinham lamber suas feridas. Quando o pobre morreu, os anjos o levaram para junto de Abraão. Morreu também o rico e foi enterrado. Na região dos mortos, no meio dos tormentos, o rico levantou os olhos e viu de longe Abraão, com Lázaro ao seu lado. Então gritou: ‘Pai Abraão, tem compaixão de mim! Manda Lázaro molhar a ponta do dedo para me refrescar a língua, porque sofro muito nestas chamas’. Mas Abraão respondeu: ‘Filho, lembra-te de que durante a vida recebeste teus bens e Lázaro, por sua vez, seus males. Agora, porém, ele encontra aqui consolo e tu és atormentado. Além disso, há um grande abismo entre nós: por mais que alguém desejasse, não poderia passar daqui para junto de vós, e nem os daí poderiam atravessar até nós’. O rico insistiu: ‘Pai, eu te suplico, manda então Lázaro à casa de meu pai, porque eu tenho cinco irmãos. Que ele os avise, para que não venham também eles para este lugar de tormento’. Mas Abraão respondeu: ‘Eles têm Moisés e os Profetas! Que os escutem!’ O rico insistiu: ‘Não, Pai Abraão. Mas se alguém dentre os mortos for até eles, certamente vão se converter’. Abraão, porém, lhe disse: ‘Se não escutam a Moisés, nem aos Profetas, mesmo se alguém ressuscitar dos mortos, não acreditarão’" (Lucas 16,19-31).

Aqui temos, da boca do próprio Jesus, uma parábola onde, partindo de personagens fictícios, Jesus nos explica uma situação real aplicável a cada um de nós: a recompensa ou o castigo que receberemos conforme as nossas obras.

Não se deve crer - como crêem as seitas - que apenas por ser uma parábola ela não encerra um ensinamento real. Seria bastante curioso Jesus apresentar uma parábola fazendo alusão à imortalidade da alma se esta realmente fosse uma doutrina pagã. Ora, se a alma fosse mortal, nada seria mais inapropriado do que empregar uma parábola cuja interpretação acabasse reforçando o conceito judaico da imortalidade da alma, visto que Jesus poderia perfeitamente alterar um pouco a estória, apontando que o rico simplesmente já não mais existia após a sua morte, enquanto que Lázaro era recompensado ao ressuscitar no último dia.

Evidência nº 3: a Transfiguração

"Seis dias depois, Jesus levou consigo Pedro, Tiago e João e os fez subir a um lugar retirado, no alto de uma montanha, a sós. Lá, Ele foi transfigurado diante deles. Sua roupa ficou muito brilhante, tão branca como nenhuma lavadeira na terra conseguiria torná-la assim. Apareceram-lhes Elias e Moisés, conversando com Jesus" (Marcos 9,2-4).

Este é outro evento que lança por terra a teologia das seitas pois, já que a alma não sobrevive ao corpo, o que faziam aqui Moisés e Elias conversando com Jesus? É oportuno recordar que a morte de Moisés está claramente registrada nas Escrituras (cf. Deuteronômio 34,5-6).

Além da Transfiguração, temos ainda o evento da necromante de Endor, onde [o profeta] Samuel, já falecido, é evocado por ordem [do rei] Saul (1Samuel 28,6-20):

Tanto no caso de Samuel quanto no de Elias e Moisés não se pode alegar que se trata de parábolas, nem de alucinações, e muito menos - como me comentou certa ocasião uma pessoa que possui crenças adventistas - que Samuel era um demônio e que Moisés ressuscitara temporariamente na Transfiguração para logo depois tornar a morrer.

Evidência nº 4: Cristo prega aos espíritos encarcerados

"De fato, também Cristo morreu, uma vez por todas, por causa dos pecados, o justo pelos injustos, a fim de nos conduzir a Deus. Sofreu a morte, na existência humana, mas recebeu nova vida no Espírito. No Espírito, ele foi também pregar aos espíritos na prisão, aos que haviam sido desobedientes outrora, quando Deus usava de paciência — como nos dias em que Noé construía a arca. Nesta arca, umas poucas pessoas — oito — foram salvas, por meio da água" (1Pedro 3,18-20).

Este texto faz alusão à descida de Cristo aos infernos ("Sheol" para os hebreus) logo após a sua morte na Cruz, onde prega para aqueles justos que estavam retidos aguardando que Cristo, por sua morte e ressurreição, abrisse-lhes o caminho para entrar no céu (Hebreus 2,10; 9,8.15; 10,19-20; 1Pedro 3,19). Não custa dizer que neste evento encontra-se outra prova palpável da imortalidade da alma, visto que a pregação de Cristo é dirigida aos falecidos.

Devemos descartar os argumentos pouco convincentes das seitas, que sugerem que tal pregação foi um simples ato de presença diante dos demônios ou um ato condenatório. Isto porque o sentido do verbo grego "κηρύσσει ν" (pregar), é indicado pelo contexto geral, que trata da misericórdia de Deus e dos efeitos da redenção. A pregação teve que ser, portanto, o anúncio de uma Boa Nova, estando em harmonia com as palavras de Pedro que seguem imediatamente depois:

"Pois também aos mortos foi anunciado a Boa Nova, para que, mesmo julgados à maneira humana na carne, eles pudessem viver pelo Espírito, conforme o desejo de Deus" (1Pedro 4,6).

A hipótese de uma pregação condenatória seria contrária ao espírito da passagem. Ademais, devemos ressaltar que o termo "κηρύσσειv", no Novo Testamento, é empregado sempre para designar a pregação de uma Boa Nova.

Também é descabida a suposição de que se tratavam de demônios, pois faz referência a pessoas incrédulas que viviam nos tempos de Noé.

Devemos notar, no entanto, que ainda que o Apóstolo distinga especialmente os contemporâneos de Noé, não está com isto excluindo os demais justos; na verdade, ele está destacando a eficácia redentora de Cristo, a qual alcançou inclusive aqueles que em outra época foram considerados como grandes pecadores e provocaram o maior castigo de Deus sobre o mundo. Seriam assim aqueles que no tempo de Noé foram incrédulos às suas exortações ao arrependimento, mas que logo depois de se desencadear o dilúvio se arrependeram, pedindo perdão a Deus antes de morrerem.

Evidência nº 5: a Bíblia apresenta os salvos na presença de Deus

No capítulo 11 da Carta aos Hebreus são mencionados todos os Patriarcas e Santos da Antiguidade como modelos para os cristãos. Eles que não alcançaram "a promessa" e tiveram que esperar que Cristo, por sua morte e ressurreição, abrisse-lhes o caminho para ingressar no céu (Hebreus 2,10; 9,8.15; 10,19-20; 1Pedro 3,19) são apresentados como testemunhas ao nosso redor:

"Portanto, com tamanha nuvem de testemunhas em torno de nós, deixemos de lado tudo o que nos atrapalha e o pecado que nos envolve. Corramos com perseverança na competição que nos é proposta" (Hebreus 12,1).

O Autor da Carta aos Hebreus se serve, assim, de uma metáfora extraída dos jogos públicos, aos que estavam acostumados com a sociedade greco-romana. Imagina-se que, da mesma forma como naqueles jogos há uma nuvem de testemunhas observando, também nós, os cristãos, encontramo-nos rodeados por toda uma "nuvem de testemunhas" que observam o nosso esforço. Essas testemunhas, é claro, são os antepassados que o Autor acabara de mencionar e que se encontram na cidade do Deus Vivo, na assembleia dos primogênitos inscritos no Reino dos Céus, por se tratar dos espíritos dos justos que atingiram a perfeição:

"Vós, ao contrário, vos aproximastes do monte Sião e da cidade do Deus vivo, a Jerusalém celeste; da reunião festiva de milhões de anjos; da assembleia dos primogênitos, cujos nomes estão escritos nos céus. Vós vos aproximastes de Deus, o Juiz de todos; dos espíritos dos justos, que chegaram à perfeição" (Hebreus 12,22-23).

Observe-se que se fala aqui dos "espíritos dos justos". Estes justos, no entanto, ainda não ressuscitaram, coisa que resta bem clara, primeiramente, porque são chamados de "espíritos"; e, em segundo lugar, porque a ressurreição se dará apenas no último dia (cf. João 6,39).

Outro texto onde podemos ver claramente as almas conscientes dos justos e na presença de Deus antes da ressurreição encontramos no Apocalipse:

"Quando abriu o quinto selo, vi debaixo do altar aqueles que tinham sido imolados por causa da Palavra de Deus e do testemunho que tinham dado. Gritaram com voz forte: 'Senhor santo e verdadeiro, até quando tardarás em fazer justiça, vingando o nosso sangue contra os habitantes da terra?' Então, cada um deles recebeu uma veste branca e foi-lhes dito que esperassem mais um pouco de tempo, até se completar o número dos seus companheiros e irmãos, que iriam ser mortos como eles" (Apocalipse 6,9-11).

E quando Estêvão - o primeiro mártir cristão - sofreu o martírio, viu, antes de morrer, o céu se abrir para receber o seu espírito:

"Cheio do Espírito Santo, Estêvão olhou para o céu e viu a glória de Deus; e viu também Jesus, de pé, à direita de Deus. Ele disse: 'Estou vendo o céu aberto e o Filho do Homem, de pé, à direita de Deus'. Mas eles, dando grandes gritos e tapando os ouvidos, avançaram todos juntos contra Estêvão; arrastaram-no para fora da cidade e começaram a apedrejá-lo. As testemunhas deixaram seus mantos aos pés de um jovem, chamado Saulo, e apedrejavam Estêvão, que exclamava: 'Senhor Jesus, acolhe o meu espírito'. Dobrando os joelhos, gritou com voz forte: 'Senhor, não os condenes por este pecado'. Com estas palavras, adormeceu" (Atos 7,55-60).

CONCLUSÃO

As evidências em favor da imortalidade da alma são muitas. E de fato, não apenas os cristãos como também os judeus - que reconhecem apenas o Antigo Testamento - crêem nela. Apenas as seitas que aguardam [o cumprimento de] profecias falidas (adventistas e testemunhas de Jeová) é que se obstinam em negá-la, preferindo distorcer todo texto bíblico que refuta o seu erro.

Espero, assim, que este resumo sirva para transmitir-lhes a doutrina da Santa Igreja Católica e lhes permita abandonar o erro que professam.

BIBLIOGRAFIA

- Bíblia Comentada, texto de Nácar-Colunga.
- [Bíblia Sagrada, tradução da CNBB].

Autor: José Miguel Arráiz
Fonte: http://www.apologeticacatolica.org
Tradução: Carlos Martins Nabeto

sábado, 25 de dezembro de 2010

O QUE É RELATIVISMO?


Você e eu possuímos verdades diferentes? Você tem algum direito de me impor os seus valores? Conheça o perigo de se aceitar uma tendência que entende inexistentes as normas de conduta universais para todos os seres humanos

"As condições de sobrevivência da humanidade não estão sujeitas a votação; são como são" (Robert Spaemann)

EXISTEM VALORES ABSOLUTOS?

Diz Peter Kreeft que certo dia, durante uma de suas aulas de ética, um aluno disse-lhe que a moral era algo relativo e que ele, como professor, não tinha o direito de impor [aos outros] os seus valores.

"Bem, - respondeu Kreeft, para iniciar um debate sobre aquela questão - vou então aplicar à classe os seus valores e não os meus. Você diz que não há valores absolutos e que os valores morais são subjetivos e relativos. Já que as minhas ideias pessoais são um tanto singulares em alguns aspectos, a partir deste momento vou aplicar esta: todas as alunas estão suspensas".

O aluno ficou surpreso e protestou, dizendo que aquilo não era justo.

Kreeft lhe perguntou: "Para você, o que significa 'ser justo'? Porque se a justiça é apenas o meu valor ou o seu valor, então não existe nenhuma autoridade comum entre nós dois. Eu não tenho o direito de impor para você o meu sentido de justiça, mas você também não pode me impor o seu...".

"Portanto, apenas se existir um valor universal chamado 'justiça', que prevaleça sobre nós, você poderá apelar a ele para julgar injusto que eu suspenda todas as alunas. Mas se não existirem valores absolutos e objetivos fora de nós, você apenas poderia me dizer que os seus valores subjetivos são diferentes dos meus e nada mais".

"No entanto - continuou Kreeft - você não está me dizendo que não gosta do que eu faço, mas que é 'injusto'. Ou seja, que quando você parte para a prática, então acredita em valores absolutos".


NÃO ME IMPONHA A SUA VERDADE

Os relativistas e os céticos consideram que aceitar qualquer crença é algo servil, uma torpe escravidão que coage a liberdade de pensamento e impede uma forma de pensar elevada e independente.

No entanto - como dizia C. S. Lewis - ainda que um homem afirme não crer na realidade do bem e do mal, mais cedo ou mais tarde o veremos contradizer-se na vida prática. Por exemplo: uma pessoa pode não cumprir sua palavra ou não respeitar o combinado, argumentando que isto não tem importância e que cada um deve organizar sua vida sem pensar em teorias. Porém, o mais provável é que não demore muito em argumentar, referindo-se a outra pessoa, que é indigno que ela não tenha cumprido [para com ele] as suas promessas.

Quando os defensores do relativismo falam em defesa dos seus direitos, costumam a se desprender de todo o seu relativismo moral e condenar categoricamente a objetiva imoralidade daqueles que pretendem causar-lhes dano. E se alguém lhes rouba a carteira, ou lhes acerta um tapa, o mais provável é que esqueçam o seu relativismo e assegurem - sem qualquer relativismo - que isso é algo muito mal, diga o que disser quem quer que seja (sobretudo se quem o diz é o próprio ladrão ou agressor). Ora, se a palavra dada não tem importância, ou se não existem coisas tais como o bem e o mal, ou se não existe uma lei natural, qual é a diferença entre algo justo ou injusto? Por acaso não se contradizem ao mostrar que, apesar do que afirmam, na vida prática reconhecem que existe uma lei da natureza humana?

O relativismo, ao não possuir uma referência clara à verdade, conduz à confusão global do que está certo e do que está errado. Se se analisam com um pouco mais de detalhes as suas argumentações, é fácil advertir - como explicar Peter Kreeft - que quase todas costumam a se autorefutarem:

- "A verdade não é universal" - exceto esta verdade?

- "Ninguém pode conhecer a verdade" - exceto você, pelo que parece.

- "A verdade é incerta" - mas não é incerto também esta sua afirmação?

- "Todas as generalizações são falsas" - e esta também?

- "Você não pode ser dogmático" - com esta mesma afirmação você está demonstrando ser bem dogmático.

- "Não me imponha a sua verdade" - agora é você quem está me impondo as suas verdades.

- "Não há absolutos" - absolutamente?

- "A verdade é apenas uma opinião" - na sua opinião, pelo que vejo.

Etcetera ad nauseam...


O BOXEADOR QUE NUNCA SOBE AO RINGUE

Quando alguém diz que é muito difícil ou quase impossível saber o que é verdade ou mentira, o que é bom ou mau, porque garante que tudo é relativo, adota uma cômoda postura em que simplesmente não precisa argumentar nada. Resolve qualquer debate ou discussão séria porque nega o seu pressuposto. Por isso, dizia Wittgenstein, é como um boxeador que nunca sobe ao ringue.

Ao invés de subir ao ringue, o que costuma a fazer na prática é, em um descuido retórico, fazer valer a sua própria verdade e o seu próprio conceito de bem. Isto porque também ele guarda muitas certezas, ainda que talvez não as tenha percebido, por estar demasiadamente ocupado em acusar os outros de dogmatismo.

O que o relativista costuma a olhar com suspeita não são as certezas, mas as certezas dos demais.

Deixar-se-iam operar por um médico-cirurgião se não estivessem seguros de sua competência [médica]? Embarcariam em um avião de certa companhia aérea se fossem manifestadas incertezas acerca da segurança daquele voo? Todo homem, por natureza, busca sempre as certezas.

Segundo Christopher Derrick, a apoteose do relativismo pode ser devida a essa impressão - vaga, porém persuasiva - de que expressar dúvida é um sinal de modéstia e democracia, enquanto que falar de certezas se considera como dogmático e quase ditatorial.

No entanto, o relativismo não pode ser levado às últimas consequências. Por isso, Ortega dizia que:

"O relativismo é uma teoria suicida, pois quando se aplica a si mesma, morre. Na maioria das vezes, o relativismo é uma espécie de posse acadêmica, uma cômoda evasão da realidade".


DÃO NO MESMO TODAS AS RELIGIÕES?

Charles Moore, diretor do "Sunday Telegraph", relatou há alguns anos sua conversão ao Catolicismo.

Moore procurava a verdadeira religião, ante o assombro de seus amigos que lhe diziam que todas as religiões são iguais e que a única coisa importante era o desejo de fazer o bem. Ele discordava completamente e respondia:

"Isso seria como se alguns médicos se reunissem em torno de um paciente e concluíssem: 'Bom, todos nós queremos que ele melhore; portanto, todos os [diferentes] tratamentos que lhe prescrevermos serão igualmente bons'. No entanto, é óbvio que isto não ocorre. Encontrar o tratamento adequado pode ser questão de vida ou morte".

É certo que pessoas de religiões diferentes recebem alento de suas [respectivas] crenças e o ensinamento para se tornarem melhores. Todas as religiões distintas da verdadeira contêm e oferecem elementos de religiosidade, que procedem de Deus e que refletem um lampejo daquela Verdade que ilumina todos os homem. Porém, a partir disso deduzir que todas as religiões são iguais, que dá na mesma tanto uma quanto outra, seria deduzir ao excesso.

Na hora de escolher a religião, deve-se perguntar sobretudo qual das portas é a verdadeira e não qual delas nos agrada mais por seus enfeites ou atrações externas.

Não basta a boa intenção, já que não se pode esquecer quanto mal ocorreu na História em nome de opiniões e boas intenções.

Cada homem tem a obrigação - e também o direito - de buscar a verdade em matéria religiosa, a fim de que, empregando os meios adequados, chegue a formar juízos de consciência retos e verdadeiros.

- Então o que importa para a salvação é viver conforme a própria consciência...

Quando se fala em viver conforme a consciência, alguns o compreendem como um simples viver segundo o que cada um subjetivamente pensa, como se nas questões religiosas e morais não houvesse nada objetivo. Porém, nem sempre basta seguir a consciência, já que às vezes a sua voz pode ser afogada ou ainda equivocada. Por exemplo: Hitler escreveu, poucas horas antes de morrer, que não se arrependia de nada, que de nada pedia perdão porque afirmava seguir de boa fé a sua consciência...

A consciência não é um simples reduto do subjetivismo, mas o lugar onde se da a abertura do homem para a verdade, para Deus. O homem, se procura, tem possibilidade de conhecer o caminho que o conduz à verdade.

E obedecer à consciência nesse caminho pode exigir um grande esforço. Supõe não deixar-se guiar apenas pelo que lhe agrada, mas olhar ao redor, purificar-se e ter o ouvido atento para ouvir a voz de Deus, para colocar-se a caminho da verdade.

Somente assim se pode compreender no que consiste a grandeza da fé. E as diferentes religiões podem subministrar elementos que nos conduzem a esse caminho, mas que também podem nos desviar dele.

- Então a Igreja não admite que o Cristianismo seja mais uma via de salvação entre muitas outras [vias]?

A Igreja sustenta que Jesus Cristo não é simplesmente um guia espiritual, ou um caminho a mais para Deus entre muitos outros, mas sim o único caminho de salvação.

- Mas isso não é uma afirmação um tanto arrogante de parte da Igreja?

Acredito que não. O natural é que fiel muçulmano reconheça Maomé como profeta, ou que um fiel judeu escute a Torah como Palavra de Deus. O que diz a Igreja Católica não supõe menosprezo nem falta de consideração pelas outras confissões religiosas. Afirma que Jesus Cristo é o único caminho de salvação, mas também diz claramente que Deus salva os não-cristãos que se fazem merecedores disto.

A salvação - para se dizer de um modo um tanto quanto informal - é monopólio de Deus e não dos cristãos. Deus dá a todos os homens luz e auxílio para se salvarem, fazendo-o de maneira adequada à situação interior e ambiental de cada um.

Autor: Anônimo
Fonte: www.encuentra.com
Tradução: Carlos Martins Nabeto

A GRANDE REVELAÇÃO: O MESSIAS



Cristo, o homem histórico, é verdadeiramente o Filho de Deus, o Messias prometido aos judeus

Na época em que Jesus viveu, mais do que nunca, aguardava-se a vinda do Messias; no entanto, tinha-se falseado o conceito que fora dado sobre Ele aos Profetas. Em sua grande maioria, os judeus contemporâneos de Jesus esperavam um Messias que lhes traria bonança, um grande chefe político.

Os três conceitos errados sobre o Messias eram:

1. O reino messiânico seria um período de prosperidade material, sem cansaço nem dores, livre do domínio estrangeiro. Os próprios Apóstolos não concebiam [inicialmente] que Jesus viera falar de morte na cruz para atrair a Si todas as coisas.

2. Os rabinos concebiam o futuro Messias como um chefe político, restaurador da dinastia davídica.

3. A terceira corrente fazia coincidir a vinda do Messias com o fim o do mundo. O reino messiânico se realizaria em outra vida (=visão escatológica).

Apesar destas falsas concepções, existia um "pequeno resto" de pessoas que possuía uma ideia exata do Messias: o Messias, simultaneamente Sacerdote e Vítima, sacrificaria sua vida para libertar-nos do pecado e restaurar a amizade entre Deus e os homens. Neste grupo encontramos, com Maria, sua prima Isabel (Lucas 1,41-46), o velho Simeão (Lucas 2,30-32), a profetiza Ana (Lucas 2,38) e, sobretudo, João Batista (Mateus 3,2-12), além do essênios, uma seita que as recentes descobertas no Mar Morto nos permitiram conhecer melhor e à qual [provavelmente] pertencia João Batista.

Por causa dessas distorções, Jesus, para demonstrar sua Messiandade, empregou uma tática prudente para não causar demasiado escândalo: toma o título de "Filho do Homem" (Daniel 7,13-14).

Em primeiro lugar, aceita o testemunho de João Batista (João 1,29-30). Declara abertamente sua Messiandade perante a samaritana (João 4,25-26), perante Nicodemos (João 3,13-18) e, de maneira contundente, perante Caifás, durante seu próprio julgamento (Mateus 26,63-64).

Ao mesmo tempo, apresenta-se também perante o mundo como o Filho de Deus: "Ninguém conhece o Pai senão o Filho" (Mateus 11,27). Revela-nos sua íntima união com o Pai, com o qual se identifica. Esta afirmação, totalmente original, não se encontra em nenhum outro fundador de religiões; a apreciamos na profissão de fé de Pedro (Mateus 16,18). A manifestação mais clara que possuímos nos Sinóticos acerca da divindade de Jesus encontra-se na resposta que Ele deu diante do sumo sacerdote Caifás, no Sinédrio:

"Conjuro-te pelo Deus vivo, que nos digas se Tu és o Cristo, o Filho de Deus" (Mateus 26,63). Jesus respondeu: "Tu o disseste. E vos declaro que desde agora vereis o Filho do homem sentado à direita do Pai, a vir sobre as nuvens do céu" (Mateus 26,64).

A divindade de Jesus é ainda mais clara no Evangelho de São João. Citemos alguns textos:

- "E o Verbo era Deus" (1,1).

- "Eu e o Pai somos um" (10,30).

- "Eu vos digo e não acreditais. As obras que faço em nome do meu Pai dão testemunho de Mim. Mas vós não acreditais porque não sois ovelhas minhas" (10,25-26).

Resta-nos ainda como testemunho a própria ação de Jesus durante a sua vida pública. Em primeiro lugar, fala de aperfeiçoar a Lei dada por Deus ao povo judaico, e apenas Ele pode exercer domínio sobre as coisas de Deus (Mateus 34-36, Juízo Final). Proclama-se também o próprio fim da lei moral, coisa que apenas Deus pode pretender. Por outro lado, proclama-se mais digno de amor que todas as pessoas queridas, mais ainda que a nossa própria vida (Mateus 10,37 e Mateus 16,25). Por consequência: JESUS SE APRESENTA COMO DEUS.

A linguagem de certas expressões evangélicas somente é compreendida se se tem esta perspectiva da divindade de Cristo:

- "Eu sou a ressurreição e a vida" (João 11,25).

- "Eu sou a luz do mundo" (João 8,12).

- "Eu sou o caminho, a verdade e a vida" (João 14,6).

- "Quem não recolhe comigo, espalha" (Mateus 12,30).

Quando cura os doentes, etc., opera diretamente por sua própria vontade: "Quero. Fica limpo" (Mateus 8,3).

Assume também o direito de perdoar os pecados, que é algo que compete apenas a Deus: "Confia, filho: teus pecados te são perdoados" (Mateus 9,2).

Age como Deus quando a tempestade sacode o barco e ameaça afundá-lo; Jesus desperta e ordena ao mar: "Cala-te. Acalma-te" (Marcos 4,39).

Por fim, durante toda a sua vida, Jesus nunca tem dúvida, nem titubeia. Pronuncia os juízos mais decisivos e comprometidos sobre os problemas humanos mais graves, sem que jamais sua inteligência acuse o mínimo esforço, sem se ver obrigado a refletir antes de responder, visto que o que sabe não provém em razão do estudo ou do raciocínio.

Autor: Sagrada Congregação para o Clero
Fonte: www.clerus.org
Tradução: Carlos Martins Nabeto

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

O NATAL ESTÁ SENDO PERDIDO?


Herodes também celebra o Natal

Um dos sinais mais evidentes da sobrenaturalidade do Natal não se dá na manjedoura onde Jesus nasce, mas no palácio onde Herodes reside. Como os pastores que cuidavam dos seus rebanhos, como os sábios provindos do Oriente, Herodes reconhece a sobrenaturalidade do nascimento de Cristo. E, como os pastores e os sábios, se apressa a celebrá-lo... a seu modo. Nós, cristãos, celebramos, com o Natal de Cristo, o advento de uma nova era: nossa natureza decaída é finalmente redimida; e essa redenção, que não passa despercebida de seus beneficiários, tampouco poderia, em seu máximo, produzir danos.

Certa iconografia cristã retratou o Natal com traços de ternura e suavidade, adulterando o sentido profundo do Reinado que se instaura, o qual não é um reinado pacífico (ou somente o é se considerarmos que o Natal é uma prefiguração da Parusía), mas de combate. As campanhas de Natal - nos recorda Chesterton - sonham com o barulho dos canhões, pois o que o Natal vem instaurar é uma cruel batalha, uma guerra incessante contra quem, na narração evangélica, é representado por Herodes.

Herodes combate o Natal matando crianças. É um traço característico (ou, dito mais propriamente, constitutivo) de todos os cultos demoníacos de ódio pelas novas vidas; isto porque em toda nova vida se resume a Nova Aliança que Deus estabeleceu com os homens. E visto que toda nova vida adquire aos olhos de Deus uma condição sagrada, adquire também, aos olhos do Inimigo, a condição de vítima propiciatória. Isto, que é uma verdade teológica profunda - mesmo que os padres já não falem falem mais do Inimigo -, é também uma verdade histórica irrefutável. Em todos os ocasos da História, as novas vidas têm sido perseguidas sem piedade: sua fragilidade golpeada, sua inocência escarnecida, sua dignidade vituperada, sua própria existência perseguida com brutal e eficiente ódio.

Neste novo ocaso da História, a perseguição herodiana das novas vidas se estende até aquilo que os Profetas do Antigo Testamento denominavam "a abominação da desolação", isto é, até a profanação do recinto sagrado onde toda nova vida encontra refúgio e sustento. A conversão do seio materno em um campo de batalha onde se exerce a mais feroz das violências contra as novas vidas constitui a mais estremecedora manifestação demoníaca de nossa época - e é a forma pela qual Herodes continua celebrando o Natal.

Herodes celebrou o Natal deixando-se arrastar por um momento repentino de cólera, mas o Inimigo não costuma empregar estratégias tão grosseiras; pelo contrário, costuma a mascarar seus crimes sob uma fachada de humanitarismo farisaico. E uma de suas estratégias favoridas consiste em adotar argumentos que favoreçam o ofuscamento da consciência moral: "Ai daqueles que chamam o 'mal' de 'bem' e o 'bem' de 'mal'; que fazem da 'luz', trevas; e das 'trevas', luz; que trocam o 'amargo' pelo 'doce' e o 'doce' pelo 'amargo'" - exclamava Isaías. Os inimigos das novas vidas chamam agora de 'direito' àquilo que é um crime; e disfarçam de filantropia e feminismo ao que nada mais é do que ódio essencial à linhagem humana e eterna inimizade contra a mulher. Este ódio é de índole demoníaca e todos os álibis ideológicos que esgrimem para justificá-lo ou maquiá-lo com enfeites nada mais são do que [simples] disfarce de quem disse: "Non serviam" (="Não servirei").

Existe uma passagem bastante enigmática e controvertida das Escrituras (2Tessalonicenses 2,3-8), em que São Paulo se refere a um misterioso "obstáculo" que retém o ímpio e o impede de se manifestar; basta que tal obstáculo se retire - nos diz São Paulo - para que sobrevenham os Últimos Tempos. Eu sempre identifiquei esse "obstáculo" com o discernimento moral do homem, com a capacidade que o homem possui para emitir, mediante a razão, um juízo objetivo sobre o que está certo e o que está errado, conforme estabelecia Aristóteles em sua "Política". A perseguição herodiana contra as novas vidas, sancionada legalmente e aceita socialmente, nos indica que tal discernimento se obscureceu e que talvez o obstáculo tenha sido removido.

Feliz e santo Natal a todos. E não se esqueçam que o Natal somente pode ser celebrado combatendo-se Herodes.

Autor: Anônimo
Fonte: www.encuentra.com
Tradução: Carlos Martins Nabeto

Igreja Católica: Construtora da Civilização - Episódio 13: Recapitulação Geral









Apresentação: Dr. Thomas E. Woods Jr.
Produção: EWTN - Ethernal Word Television Network
Tradução e Legendas: Kandungus

sábado, 18 de dezembro de 2010

Igreja Católica: Construtora da Civilização - Episódio 12: Atrocidades Anticatólicas









Apresentação: Thomas E. Woods Jr.
Produção: EWTN - Ethernal Word Television Network
Tradução e Legendas: Kandungus

Igreja Católica: Construtora da Civilização - Episódio 11: As Origens do Direito Internacional









Apresentação: Thomas E. Woods Jr.
Produção: EWTN - Ethernal Word Television Network
Tradução e Legendas: Kandungus

Igreja Católica: Construtora da Civilização - Episódio 10: O Conceito de Direito









Apresentação: Thomas E. Woods Jr.
Produção: EWTN - Ethernal Word Television Network
Tradução e Legendas: Kandungus

Igreja Católica: Construtora da Civilização - Episódio 9: A Moralidade Ocidental









Apresentação: Dr. Thomas E. Woods Jr.
Produção: EWTN - Ethernal Word Television Network
Tradução e Legendas: Kandungus

Igreja Católica: Construtora da Civilização - Episódio 8: A Caridade Católica









Apresentação: Dr. Thomas E. Woods Jr.
Produção: EWTN - Ethernal Word Television Network
Tradução e Legendas: Kandungus

Igreja Católica: Construtora da Civilização - Episódio 7: Os Monges









Apresentação: Dr. Thomas E. Woods Jr.
Produção: EWTN - Ethernal Word Television Network
Tradução e Legendas: Kandungus

Igreja Católica: Construtora da Civilização - Episódio 6: A Existência de Deus









Apresentação: Dr. Thomas E. Woods Jr.
Produção: EWTN - Ethernal Word Television Network
Tradução e Legendas: Kandungus

Igreja Católica: Construtora da Civilização - Episódio 5: O Sistema Universitário









Apresentação: Dr. Thomas E. Woods Jr.
Produção: EWTN - Ethernal Word Television Network
Tradução e Legendas: Kandungus

Igreja Católica: Construtora da Civilização - Episódio 4: O Caso Galileu Galilei









Apresentação: Dr. Thomas E. Woods Jr.
Produção: EWTN - Ethernal Word Television Network
Tradução e Legendas: Kandungus

Igreja Católica: Construtora da Civilização - Episódio 3: Padres Pioneiros da Ciência









Apresentação: Dr. Thomas E. Woods Jr.
Produção: EWTN - Ethernal Word Television Network
Tradução e Legendas: Kandungus

Igreja Católica: Construtora da Civilização - Episódio 2: Igreja e Ciência









Apresentação: Dr. Thomas E. Woods Jr.
Produção: EWTN - Ethernal Word Television Network
Tradução e Legendas: Kandungus

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Igreja Católica: Construtora da Civilização - Episódio 1: Introdução Geral









Apresentação: Dr. Thomas E. Woods Jr.
Produção: EWTN - Ethernal Word Television Network
Tradução e Legenda: Kandungus